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Empresário preso com fortuna estimada em R$ 100 milhões é líder do CV em Brumado

Empresário preso com fortuna estimada em R$ 100 milhões é líder do CV em Brumado

Crédito: Reprodução

Ainda aos 16 anos, Cézar Paulo de Morais Ribeiro ficou milionário. Filho único de um magnata que morreu em 2014, herdou um patrimônio estimado em R$ 100 milhões. Ao longo desses 10 anos, multiplicou a fortuna. Mas por trás de um empresário bem-sucedido, havia um criminoso impiedoso e ardiloso, capaz de corromper autoridades públicas. Cézar Paulo entrou no narcotráfico e em pouco tempo se tornou o líder do Comando Vermelho (CV) de toda a região sudoeste do estado. Audacioso, ele tem um propósito: chegar ao topo da organização. 

“O sonho dele é ser o traficante de mais relevância do país, superar o Fernandinho Beira-Mar”, diz um policial de Brumado, ao mencionar Luiz Fernando da Costa, mais conhecido como Fernandinho Beira-Mar, líder do CV, a segunda maior organização criminosa do país.

Por enquanto o sonho está adiado. O traficante e multimilionário foi preso por homicídio em setembro deste ano na Operação Holofote, capitaneada pelo Ministério Público do Estado (MP). Antes de vir para o Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador, ele cumpriu parte da pena no Conjunto Penal de Brumado que, por ironia ou não do destino, foi erguido por uma de suas empresas. “Quando chegou ao prédio, ele disse: ‘Vou ficar preso no lugar que construí’”, conta o policial. 

Cézar Paulo era filho do empresário brumadense e ex-vereador por dois mandatos, Paulo César Rocha Ribeiro, o Lim da Hitz, que morreu aos 57 anos de câncer, em dezembro de 2014, na cidade de Vitória da Conquista. Com o tempo, o herdeiro passou a comandar o Grupo Hitz, um conglomerado de empresas que atua no ramo de fabricação de postes, mineração, construção civil, pré-moldados, e, mais recentemente, prestando serviços de segurança privada.

Uma dessas empresas ergueu o presídio estadual da cidade – a obra foi iniciada em março de 2017 e finalizada quase cinco anos depois. Além da concretagem, a Hitz também teve participação na parte elétrica e locação de maquinários.    

Crimes

Mas o multimilionário não conseguiu sustentar por muito tempo a fama de “homem de bem”. Cézar Paulo responde por homicídio qualificado e corrupção ativa eleitoral, ambas condenações transitadas em julgado, ou seja, não podem mais ser contestadas por meio de recursos.

No total, a pena dele é de pouco mais de 15 anos de reclusão. Iniciou o cumprimento de pena em regime aberto, progredindo para o semiaberto em 23 de agosto de 2022. Três dias depois, passou para o aberto – neste caso, o condenado é autorizado a deixar a unidade e retornar à noite. No dia 24 de setembro deste ano, ele foi preso preventivamente por ordem da Vara Criminal de Caetité e transferido para o cumprimento da pena em regime fechado no Conjunto Penal de Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura.

A ele foi imputado a prática de homicídio duplamente qualificado, praticado entre os dias 5 e 6 de março deste ano, tendo como vítima Weliton Pereira Santana. 

Crédito: Divulgação

De acordo com o Ministério Público do Estado (MP), Cézar Paulo chefiava o CV de Brumado para a venda de drogas e prática de demais delitos relacionados, como tráfico de armas e homicídios. Weliton integrava a mesma facção e foi morto a mando do chefe por desentendimentos e dívidas de valor.

A vítima era conhecida como “Nego Morte” e, como seu apelido veicula, atuava como um dos pistoleiros do grupo criminoso, sob suspeita de ter praticado numerosos homicídios em Brumado, sendo a cidade-polo das atividades de Cézar Paulo no sudoeste baiano. A elucidação da autoria foi possível porque a traição e o motivo causaram indignação até mesmo nos demais integrantes faccionados, que ficaram insatisfeitos com a ordem para matar Weliton, executado após ser atraído para uma emboscada.

Em junho de 2017, já batizado no CV, Cézar Paulo foi apontado pela Polícia Civil de Brumado como o autor dos tiros que mataram o motorista Sidney Vasconcelos Meira, o “Camarão”. O delegado disse que as investigações apontam o empresário Cézar Paulo de Morais Ribeiro não como mandante, mas sim como autor do disparo que vitimou o motorista. Foragido, ele foi preso pela Polícia Militar do Paraná quando tentava deixar o Brasil. Ele foi localizado na cidade do Iporã, que faz fronteira com o Paraguai. O líder do CV também é suspeito de envolvimento na morte do comerciante Levi Carvalho, ocorrida em fevereiro do mesmo ano.

Crédito: Lay Amorim/Achei Sudoeste

Defesa

O CORREIO localizou o advogado de Cézar Paulo, Roberto Borba, que enviou uma nota à redação.

“Após herdar a empresa do seu pai, ele fez com que, através da sua administração, ela tivesse um crescimento expressivo, empregando dezenas de funcionários, trazendo emprego e renda para a região de Brumado. A sua empresa é próspera e Cézar Paulo não precisa se envolver em condutas ilícitas, tais como lavagem de dinheiro e tráfico de entorpecentes, como artifícios para captação de recursos e dinheiro. Todos os seus funcionários são pessoas honestas e estão legitimamente registrados na empresa por todos os instrumentos previstos legalmente”, diz a nota. 

A defesa nega as acusações de homicídio e que as acusações do Ministério Público e da Polícia são “inconsequentes e repulsivas, sem qualquer respaldo probatório e trouxeram um verdadeiro massacre público à sua imagem, está estampada negativamente em dezenas de sites de notícias, ou seja, um descrédito e desonra irreparáveis à pessoa de Cézar”. A nota diz ainda que “por fim, a sua prisão é injusta e todas as forças estão sendo empregadas, por meios legais, para provar a sua inocência e conquistar a sua liberdade”. A nota não faz menção alguma à corrupção de policiais.  

Líder do CV por pouco não deixou o presídio pela porta da frente

Apesar de ser uma pessoa de grande projeção no cenário do criminoso na regão Sudoeste do estado, figurando como centro de comando de crimes os mais diversos, além da capacidade econômica expressiva utilizada para favorecer suas atividades ilícitas e corromper autoridades públicas, e ainda ter sido condenado por homicídio e corrupção, por pouco Cézar não saiu pela porta da frente do Conjunto Penal Masculino, em Salvador.  Isso porque um desembargador revogou a liminar de um colega que liberava o traficante no Plantão Judiciário para cumprir prisão em domicílio no último dia 02.  

A primeira decisão, assinada às 7h22 pelo desembargador Jefferson Alves de Assis, ordenava a soltura imediata para cumprimento de prisão domiciliar, “a fim de evitar a interrupção de acompanhamento por especialista médico-cardiológico extramuros, o que é essencial para continuidade do tratamento e para minorar o risco de vida”. “Ordem concedida a fim de autorizar que o paciente cumpra a pena em prisão domiciliar até que seu quadro clínico permita seu retorno ao estabelecimento prisional, devendo os relatórios médicos acerca da evolução das patologias ser periodicamente encaminhados ao Juízo das execuções criminais, ou até que o estabelecimento prisional tenha condições efetivas de prestar a assistência médica de que ele necessita”, diz trecho do documento. 

No entanto, o juiz Álvaro Marques, que atualmente substitui o desembargador Luiz Fernando Lima, afastado cautelarmente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) após conceder prisão domiciliar a um dos líderes da facção criminosa Bonde do Maluco em um plantão judiciário, revogou a decisão, após pedido do Ministério Público do Estado (MPBA). “A unidade é moderna, com médicos e todo o aparato necessário para ofertar assistência”, disse uma fonte do MPBA à Coluna Insegurança, na edição do último dia 09.  O Conjunto Penal Masculino é a única unidade em Salvador de cogestão. 

Coincidentemente, um dia após a revogação, houve um motim no Conjunto Penal de Brumado. Nas imagens que circulam por um aplicativo de mensagens, policiais penais tentavam conter a agitação dos internos, que batiam nas portas das celas e gritavam nas galerias B e C.  No dia, houve duas versões para a situação: uma dava conta de que a tensão era porque os presos não gostaram de saber que Cézar permaneceu preso.  A outra, era que a direção da unidade decidiu por implementar medidas mais rígidas, para enfraquecer a atuação das organizações criminosas no prédio.

Leia na íntegra a nota da defesa de Cézar Paulo

A defesa de Cézar Paulo informa que, após herdar a empresa do seu pai, ele fez com que, através da sua administração, ela tivesse um crescimento expressivo, empregando dezenas de funcionários, trazendo emprego e renda para a região de Brumado. A sua empresa é próspera e ele não precisa se envolver em condutas ilícitas, tais como lavagem de dinheiro e tráfico de entorpecentes, como artifícios para captação de recursos e dinheiro. Todos os seus funcionários SÃO PESSOAS HONESTAS e estão legitimamente registrados na empresa por todos os instrumentos previstos legalmente.

Cézar Paulo, definitivamente, JAMAIS foi líder de qualquer que seja a facção criminosa, sendo a acusação de líder de facção temerária e absurda. Além disso, nunca se envolveu com tráfico de drogas e não foi, absolutamente, autor do suposto homicídio do sr. Weliton e muito menos do dito comerciante de prenome Levi, este que ele nunca ouviu nem mesmo falar o nome.

As acusações do Ministério Público e da Polícia são inconsequentes e repulsivas, SEM QUALQUER RESPALDO PROBATÓRIO, e trouxeram um verdadeiro massacre público à sua imagem, esta estampada negativamente em dezenas de sites de notícias, ou seja, um descrédito e desonra irreparáveis à pessoa de Cézar, em sentido totalmente contrário à ordem constitucional, que garante a todos a presunção de inocência até que se prove o oposto.

Cezar Paulo foi preso no interior da Faculdade de Medicina da qual ele é aluno e sua prisão foi realizada por uma equipe do GAECO, defronte dezenas de pessoas, entre alunos e funcionários, sendo que poderia ter sido realizada na sua própria residência. Mas a intenção dos promotores de justiça foi que supostamente intencionavam prendê-lo em local aos olhares do público, a fim de promover repercussão negativa na mídia, o que, infelizmente, conseguiram.

É importante destacar, pois fato de temerária gravidade, que no site do próprio Ministério Público estampou-se a notícia da prisão de Cezar Paulo, e ainda mais grave é que no corpo da matéria está veiculada a falsa informação que ele seria chefe de organização criminosa. O Ministério Público, sendo uma das mais importantes e sérias instituições do país, não poderia divulgar, de forma temerária e arbitrária, sem nem mesmo haver investigação ou ação penal correlatas, que ele seria chefe de organização criminosa, e publicar tal matéria em página de internet que possui alcance mundial, denegrindo, contundentemente, a sua imagem através de fake news.

O MP é integralmente responsável pela mácula causada à imagem do meu cliente. O que a defesa percebe é que Cezar Paulo está sendo supostamente perseguido pelos promotores integrantes do GAECO.

Por fim, a sua prisão é injusta e todas as forças estão sendo empregadas, por meios legais, para provar a sua inocência e conquistar a sua liberdade.

Roberto Borba – Advogado

*Com informações do CORREIO 24Hs

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